Paulo Jorge
Gonçalves é o artista plástico que consegue arrebatar em minha alma; em meu
sangue. É quase visceral para mim. Suas obras sejam elas aquarelas, xilogravuras,
fotografias ou o grafite, São movimentos em direção ao meu olhar, inquietando-o
tanto que uma imobilidade envolve meu corpo e não consigo sair de frente da
obra até que seja totalmente assimilada pela minha essência de historiadora,
mas mesmo sem o racionalismo que nos é peculiar.
Passo pela
História de forma atemporal e sinto profundamente o sagrado Feminino no que
faz. Parece-me um traduzir da ancestralidade feminina, pois utiliza as formas
circulares sempre em comunhão com outro elemento, como se gerasse vida em cada
traço que se conecta com o todo da tela.
Eu considero
a obra útero ( uma técnica mista feita de aquarelas, grafite e com seu ovo no centro que é uma impressão
xilográfica), como a melhor expressão deste feminino. Extremamente forte, como
uma possibilidade de geração de algo, extremamente novo, provocante e transformador
dentro de mim assim que consigo parar a contemplação.
Não há inércia
na obra de Paulo Jorge Gonçalves, tudo se realiza no movimento em espiral em
direção a quem vê. E como se o vento passasse e trouxesse todos os odores da
vida, os perfumes mais efêmeros, a saudade daquilo que ainda não se vislumbrou.
Já possuo a
obra : “ Quadrado negro sobre poste” em minha sala, na qual termino meu dia ,
numa pequena galeria de arte, ao lado de Darel, Iwao e Estella Canziani. A arte
rememora, fortalece, inquieta, esculpe novas formas em nossa alma, imprime vida
ao dia-a-dia que se torna morno ao longo do tempo.
Uma obra de
arte em um ambiente o torna sagrado. Tão sagrado quanto nossos ancestrais, pois
nos lembra sempre que a vida é fluídica, provocadora e acima de tudo, que tem
momentos únicos que não podem ser perdidos, precisam ser registrados, por
nossas retinas ou pelas mãos, olhar e coração de um artista como Paulo Jorge Gonçalves.
Texto Denise Ramos
Mestre em História comparada da Universidade
federal do rio de janeiro (UFRJ) , Pesquisadora associada ao grupo Poderes e
vulnerabilidades ( UFRJ), pesquisadora associada ao laboratório de Estudos da
Diferenças e desigualdades Sociais ( LEDDES) ligado à Universidade do Estado do
Rio de Janeiro ( UERJ)
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